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Humorário

(um diário de rir para não chorar)

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25
Mar22

Um cansaço cinza

Humorosa

É fim de semana. Sento-me no carro e sei que tenho de escrever. Parei o carro, olhei o céu, ouvi o chilrear dos pássaros lá fora, e aqui estou eu, ao volante, a escrever letras aleatórias na esperança de deitar cá para fora o peso do cansaço que me consome por dentro. A cabeça pesa. Os ombros carregam mochilas que não as minhas, e a cervical tenta endireitar-me o olhar para o horizonte de queixo erguido. Findo uma semana em que todos os dias fiz o que gostei. Porra. Nunca pensei dizer isto. Todos os dias. Mesmo no meio da agitação dos dias e das pessoas envolvidas neles, eu gostei de cada pedacinho dos meus dias. Deleitei-me neles, vibrei com eles, e como não poderia deixar de ser, acabei exausta como gosto de acabar uma bela noite sexo. Aquela sensação de ser incorpóreo e do cansaço ser visceral mas com a latência nas têmporas que permite facilmente identificar o êxtase. Mas até o êxtase cansa. Ou será que o êxtase até cansa mais? Gostava de poder partilhar tudo o que tenho vivido nos últimos dias com alguém que só tivesse ouvidos-coração para mim. Que simplesmente me aceitasse no palco do seu espaço e se deleitasse com as histórias das vidas que tocaram a minha. Gostava de encontrar-me com alguém que se entusiasmasse ao mesmo nível que eu com as pequenas histórias quotidianas que têm tanta riqueza. O bronco que afinal é sensível e desenha lindamente. A angolana que não consegue expressar-se mas que hoje já opinou como observadora fiel e atenta. A confiança que lhes vejo nos olhos passadas estas sessões. Acho que eu própria ainda não tenho palavras para o tanto e o tão pouco destes meus dias. E ainda assim queria tanto verborrear e perder-me na imensidão destas histórias para que eu própria pudesse dar-me ao luxo de me distrair do cansaço bom, sabendo que as sementes que vou deixando foram deitadas em terra arada revolvida nas manhãs de um acordar difícil por não gostar de manhãs, mas beijadas pela chuva que se entranhou todos os dias, por vezes sem saber como, nos sulcos que ia tacteando talvez por intercessão da Mão Natureza Divina. Cantei muitas vezes baixinho no coração: Senhor faz de mim um instrumento, da tua paz, do teu amor... E acho que tem sido assim. E fico cansada, mas feliz.

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