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Humorário

(um diário de rir para não chorar)

(um diário de rir para não chorar)

Humorário

11
Jul21

De onde venho afinal

Humorosa

Questiono-me diariamente numa busca incessante pelas minhas raízes.

Não pelas raízes familiares que essas conheço bem de perto, e por vezes, é com alguma dor que as sinto a quererem afundar-me na terra enquanto os meus braços se abrem ao céu aberto numa súplica, pedindo que não seja sugada.

Sentimentos de ambivalência acolhem-me nos últimos dias. 

Se por um lado os gémeos soltos que se (es)pasmam ao longo dos dias me dizem saber de onde vim,

E que esses gritos dados por eles, foram os gritos de uma criança que se quis expressar e não pôde,

Por outro lado há um amor maior dentro de mim que procura acolher aqueles gritos do corpo, como se ao acolhê-los pudesse acolher a criança pequena-ferida-perdida-de-si.

Olhar para o corpo que acolhe a alma e descobrir que só agora a alma pode ocupar o corpo não tem sido fácil.

É como devolver uma casa que nunca deveria ter sido ocupada por outro inquilino que não a da vontade do Eu superior. Esse que nunca tinha entendido de onde vinha, onde estava, e quem era, e que na verdade sempre me acompanhou em pensamentos, intuições e horas de puro contacto comigo ainda que no meio das vicissitudes das cidades e pessoas barulhentas...

Eu sempre estive lá para mim. Eu sempre soube o que Eu queria fazer. O que eu desejava. O que eu queria fazer. Só não esperava que as proibições de se-ser-assim me roubassem à vida e me entregassem ao medo da morte. Ser eu era perigoso. Ser eu era punível. Ser eu era consequência de dor. Ter voz era consequência de dor. Falar, pensar, conversar, ser poesia era morte anunciada numa espuma raivosa de ondas que se abatiam sem grande clemência.

Hoje voltar ao mar, mesmo que mais calmo, ainda me agonia. É duro ver-me no momento presente esquecendo tudo o que foi. E como eu gostava de perdoar... Era tão mais fácil. Tão mais fácil. Tão melhor... Tão quero tanto...

Mas o meu corpo não se esquece assim, ele fala-me e segreda-me baixinho, outras vezes bem alto, da dor beligerante que foi ser Eu. 

E eu quero fugir do passado. Quero pôr-lhe uma pedra em cima. Quero viver o meu Presente. Sim, porque eu cheguei cá. Houve momentos em que achei que não chegaria... 

MAS

EU ESTOU AQUI.

Quero viver! 

Quero poder finalmente deixar-me viver como Alma que se veio cumprir nesta derradeira senda de ser em relação com o outro. Em dar voz ao outro como eu quis que me dessem a mim. É como se quisesse corrigir o karma do que aconteceu comigo. E de uma forma visceral não consigo ficar indiferente aos que não têm voz, são maltratados, esquecidos, gozados, marginalizados. 

Não quero que sofram o que eu sofri. E não porque sou uma vítima. Mas porque eu percebi finalmente que toda a raiva que ainda existe guardada dentro de mim só revela que eu sabia que era injusto ser tratada assim, que eu tinha valor e que me estavam a ameaçar o valor que eu sabia que tinha. Eu sabia que tinha valor, eu nunca achei que a culpada era eu. Sempre achei que a culpa era de quem fazia e de quem assistia e compactuava, numa escolha que hoje tento ainda respeitar.

A minha revolta é a prova de que sei que tenho valor, de que sempre soube que o tinha, e agora resta-me, como último reduto, elevá-lo ao patamar da sua plenitude - vivendo através dele, e sabendo que se morrer, morri a tentar ser mais próxima de mim, a única meta de qualquer vida (para além de tantas outras coisas que quero fazer).

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