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Humorário

(um diário de rir para não chorar)

(um diário de rir para não chorar)

Humorário

21
Jun21

Do meu interior nos dias últimos

Humorosa

Como é minhas pessoas assíduas que perceberam que aqui a gaja andou fora do boteco tempo a mais e agora se vem neste preciso momento redimir da sua ausência?

Podia ser bom sinal, sinal de que já tinha encontrado O trabalho. E note-se que me refiro a ele como O trabalho porque tenho feito O esforço de O encontrar e honestamente já começava a ficar na hora de me cruzar com ele.

Tem sido quase uma odisseia ao estilo do Tinder, em que honestamente os sentimentos envolvidos são muito parecidos. Swipe left, swipe left, olha este parece giro - começa a falar sobre vestir a camisola e as horas que temos que dar do corpo ao trabalho ... nop, next, swipe left, swipe left, puta que pariu mas será que não há trabalhos decentes e interessantes a serem divulgados? 

(atendo o telefone)

Sim, sim, é a própria. Entrevista? Claro. Empresa X (murmuro um sim como quem dá a entender que se lembra de ter mandado para lá o CV mas não faz puto ideia nesta fase do campeonato se mandou, se entregou em mãos, se mandou entregar, se foi um senhor do uber eats...). Ah então foi porque fui referenciada que vocês gostam mais de ter pessoas referenciadas (para não se portarem aparentemente tão mal por vergonha alheia né) do que fazer todo o processo de tentar CONHECER as pessoas. Pois claro. Ah e então é por isso que não existia anúncio(s de jeito). Pois sim sim, vamos agendar.

(desligo o telefone)

Penso para com os meus botões como já sinto que neste momento me parece que me estou a prostituir, deixando à vista os meus melhores atributos, numa tentativa de "olhem-me para este PAR... de ideias geniais que tenho neste meu cérebro super ativo e que só queria uma casinha fixe para lhe darem espaço para fazer coisas giras".

Mas o problema é que ao fim de quase 6 meses (que na verdade são 18, porque eu ando à procura desde Março do ano passado quando estava empregada e a ver que "isso ia dar merdaaaaaa... isso ia dar merda.... e deuuuu"* neste momento até os pedidos de exercícios dinâmicos e cenas fixes que eu tenho tanta pica para fazer já me parecem absurdos, anormais e um pedido que me tira do sério, porque de todas as vezes em que investi o meu tempo, me meti todinha todinha lá, veio de lá um "RADONDO" não, ou pior, *som de erva a rolar no deserto*, é do caralho minha gente. É do caralho. Não admira que o tempo ande tripolar, ou somos nós a dar-lhe espelho ou é culpa dele que andamos assim, sem tempo a perder para nos conhecermos mas queremos muito ser uma super equipa.

A melhor equipa. A equipa com mais liderança. Com o líder que é diferente de ser chefe, frase que me faz vomitar a cada vez que a oiço ou a vejo apregoada a uma foto pôr-do-sol num qualquer facebook ou até, pasme-se, linkedin perto de si.

Estamos numa era do PARECER. E para parecer não precisamos de ser. E quem é, está sujeito a um escrutínio, a uma carcerização, a ser convidado a ser original-mas-não-tão-alto-que-é-preciso-fazer-o-fit-nestas-quatro-paredes-pintadas-a-cin-ardosia-para-escrever-frases-inspiradoras-que-nao-usamos-mas-que-ficam-bonitas-nas-paredes-para-motivar-equipas.

Como dizia a outra "Blá blá blá Whiskas saquetas."

E quem quer fazer a revolução, como SEMPRE, historicamente, ou vai ficando de fora, ou é cauterizado, encostado para canto, começando a achar que não vai encontrar um espaço onde possa ser verdadeiro e cumprir o seu propósito. Sendo que a palavra propósito também já me dá calafrios. Que isso de propósito também é algo que podia ser melhor definido como algo que podemos fazer para maximizar o potencial da humanidade. Aí, ninguém andaria em coaching à procura do seu "propósito" porque caramba, esse propósito todos o temos, e se por ele fizermos algo já a nossa vida passou a ter um sentido e algo a que nos agarrar nesta viagem por vezes tão curta mas que temos e DEVEMOS saborear.

Ontem fui ver a exposição do Ai weiwei e foi toda ela um soco no estômago. Toda.

Para mim foi a prova de que a Liberdade de expressão, de existir com ideias próprias, continua a ser vista como uma afronta nos dias que correm e que realmente o potencial do Ser humano existe nas suas polaridades. Podemos fazer TÃO BEM, mas conseguimos fazer TÃO MAL a quem é diferente de nós, a quem nos pode fazer causar desconforto porque nos aponta para o sítio que fede, que tem problemas e que a maioria teima em não ver.

Ontem senti-me o Ai weiwei da minha família. E mais uma vez fui ao fundo do meu trauma quando falava para a minha mãe sobre a exposição e o quanto eu amei e senti que tinha que sair dali para fazer algo pelo mundo, pela humanidade, nem que fosse continuar a dar aulas de yoga porque já estou a contribuir para o bem-estar de algumas pessoas e pessoas que estão bem não têm necessidade de fazer mal. Como se quisesse sair dali a correr para continuar a fazer a minha parte, a alavancar a minha parte. A fazer o meu pedaço pelo mundo. A dar sentido ao estar Aqui e agora. E de repente do outro lado da linha, mais uma vez, como sempre faz e fez, um desvio de conversa, um ouvir tácito, implícito, como quem ouve porque faz parte, mas que não consegue ir além disso.

A minha mãe está cansada. Muito cansada. É enfermeira desde os 13 anos. É daquelas cuidadoras que põe os outros à sua frente e as suas necessidades (muitas das quais desconheço) nunca são ouvidas. Mas essa é a história dela. Se ela se empoderasse. Queria tanto mas tanto ouvir o seu grito de revolta. Talvez porque eu continuo a tentar dar o meu. A tentar fazer as pazes com o ser a "ovelha negra" da família, mas com uma certeza visceral que há ciclos que quero quebrar e não quero trazer comigo a bem da Humanidade que virá depois de mim...

Ou de mim.

Na exposição do Ai weiwei vi muitas atrocidades humanas. Lembrei-me de como Humanidade temos evoluído do breu escuro, peçonhento e podre para a luz, ou na tentativa de a alcançar, como um girassol.

E o mundo continuar a girar, contra todos os que diziam que quem girava era o Sol.

 

__________________________________________________

*A música a que fiz referência é esta pérola:

28
Abr21

Era para ser uma história infantil (só que não), mas afinal sim.

Humorosa

Tinha-vos prometido uma história infantil caso a Ressonância Magnética corresse bem com o título "A minha primeira ressonância Magnética".

À primeira vista pensei escusar-me de o fazer porque o meu primeiro impacto, após o processo de quase 1 hora, imóvel no tunelzinho de cabeça e pés de fora a congelar a alma e os dedinhos todos, foi de que correu mal como a piça.

Toda uma pressão para estar quieta, um pé dormente que começou a subir à perna, 3 técnicos a rodarem entre si, "vai desistir agora?", "está a ficar ilegível", e um "o pior é para si..." depois, e olhando obviamente para a situação com alguma distância (de apenas 1 dia), reparo (com a ajuda de quem sabe ouvir, entender e acomodar a minha existência) que não foi assim tão mau e que não fugi, encarei o melhor que pude e fui grande em coragem, num exame que por si só já é difícil.

Assim sendo, retive a minha aprendizagem e consegui compreender que há uma dificuldade generalizada de acomodar a minha diferença, fazendo-me sentir anormal, estranha, mariquinhas, piegas, sensível e com a mania que preciso de psicoterapia para a vida toda.

Como se tudo o que se sente não fizesse sentido refletir para aprender mais e melhor sobre o mundo, para nos vermos refletidos nele, para olharmos para o que somos e podemos ser.

De repente já não estou na ressonância magnética, ou até poderei estar, mas desta vez os feixes que são disparados na minha direção, são mais uma vez feixes de incompreensão e invalidação do que sou, da forma como vejo a vida, e são levados como "as coisas são só o que são. Nem toda a gente anda para aí a fazer psicoterapia e a refletir sobre tudo o que lhe acontece..." e de repente passo por vários níveis de emoção:

1. Dor no peito por sentir aquelas palavras como uma flecha que invalidam na totalidade a minha forma de viver o mundo;

2. Tristeza por estar a ver que a cada dia que passa o fosso se afunda ao invés de se aproximar

3. Raiva que utilizo para bradar aos céus "NÃO PRECISO DE PENSAR COMO TU. E SE QUERES CONTINUAR NESSA VIDA SEM REFLEXÃO FORÇA... SÓ NÃO ME FAÇAS SENTIR QUE EU NÃO PRECISO DELA. ELA É VÁLIDA PARA MIM, EU SOU ASSIM, SE NÃO TE SENTES BEM COM ISSO É PROBLEMA TEU. LEVA AS TUAS CONVIÇÕES PARA ONDE QUISERES MAS DEPOIS NÃO ME VENHAS PEDIR AJUDA QUANDO O TEU CORPO TE FAZ AFUNDAR NUMA INÉRCIA QUE NÃO SABES DE ONDE VEM. PROTEJE-TE DE TUDO, DE TODOS OS PROCESSOS REFLEXIVOS PARA NÃO IR DOENDO E DEPOIS ESPANTA-TE QUE O CORPO TE GRITE!!!!!!!!!! E ISTO NÃO É UMA QUESTÃO DE VISÃO, OU DE MINDSET, É UMA QUESTÃO CIENTÍFICA, COMPROVADA E MESMO QUE NÃO FOSSE, ISTO TUDO ESTAVA DEMASIADO BEM MONTADO PARA SER APENAS ALEATÓRIO. DIZ COMIGO: TODA A CAUSA TEM UMA CONSEQUÊNCIA E TODA A CONSEQUÊNCIA TEM UMA CAUSA. (Tou tão fodida a escrever isto que quase afundo as teclas do pc para dentro mas adiante...)

E neste momento penso que ultimamente tenho feito um esforço enorme, hercúleo, para criar momentos criativos, diferentes, expansivos, numa tentativa de te mostrar o meu mundo e sentir-me bem neste espaço a dois, e de repente vejo (COM MUITA PENA) que a motivação está pelas ruas da amargura...

Não pude deixar de pensar no que sinto, e na forma como já me estou a começar a borrifar para as partilhas que faço contigo... lembro-me bem de num passado distante me dizeres que enquanto estavas a trabalhar não gostavas de ser interrompido pelo meu ressaltar palpitante de alegria quando recebia uma encomenda e ta queria mostrar no momento, lembro-me bem de como as minhas tentativas de sensualizar, sair, fazer diferente, eram completamente bloqueadas, e de como tentei acomodar isso tudo, mas agora onde está essa vontade? Essa energia?

E de repente no meu fundo, no fundo da minha pior pessoa, penso e dou graças a Deus pela pandemia e necessidade de afastamento social... de estarmos confinados à mesma pessoa, e não a novas pessoas, Novinhas em folha para me iludirem e reluzirem como cristais acabadinhos de limpar com ajax... (e olha que eu sei que nem tudo o que reluz é ouro, mas só para ter o prazer de me voltar a sentir sensual, querida, desejada quase que valia a pena cagar no Covid... quase)

Há tanto dentro de mim que eu quero abraçar. Que eu quero amar. Mas todos esses pequenos pedacinhos que te entrego são condicionados ao momento, ou ao não momento, ao respeito individual, ao espaço que não se trespassa, ao espaço interno que já demorou muito a chegar onde está e que agora está guardado com bulldozers e seguranças E EU ESTOU A VER MUITO BEM. Porque quem vê de fora vê tão melhor do que quem está dentro a dormir em serviço (porque não refletes...) sabes? e repara... caguei, vou parar de vender a minha ideia para respeitar a tua... é legítimo sermos diferentes sim senhor...

mas se isso terminar o que viemos fazer um com o outro... So be it.

Cansei de ser sexy.

Cansei de querer que o meu lado da barricada ganhe.

Vou só ali aprender a ser eu, a gostar de ser eu, da "diferença positiva e única que causas no mundo" e se por acaso ainda aí estiveres quando eu voltar logo vemos...

Senão sabes?

Como aprendi hoje...

É melhor aprender "a errar depressa".

É mais útil, 

Mais rápido,

Mais eficiente como tu tanto gostas. Para não perder tempo. Bem feitinho até nos colocávamos numa app e ela fazia a validação do match. Oh espera... Nós conhecemo-nos numa app... (sentes o ácido?)

Por outro lado, como dizia o meu amigo quase astronauta, "Como podes saber se gostas de donuts se só pensares neles? Precisas experimentar e sentir para saber se gostas ou não."

E é isso que vou fazer...

Em conjunto com a recomendação da minha querida Diana:

"Dê-se tempo para perceber..." 

 

PS: Auto aviso à navegação: Não te esqueças que a tua abordagem funciona para ti, serve-te, e por isso não tens que abdicar dela!!! Não deixes que os outros continuem a invalidar a tua realidade, a dizer-te que não podes estar sempre em processos reflexivos. Podes fazê-lo porque tu já sabes quando parar, quando vale a pena, quando não vale, tu sabes. E mais, faz parte da tua necessidade de estímulo intelectual, de curiosidade, de compreensão e de atribuição de significado ao mundo. É a tua experiência. É especial e única. Se não compreendem está tudo bem. Quem perde é quem não tenta penetrar no olhar do outro com curiosidade. Eu faço isso. Eu considero sempre isso. Quem não faz é quem perde. 

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