Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Humorário

(um diário de rir para não chorar)

(um diário de rir para não chorar)

Humorário

01
Set21

Carta encriptada para o mundo só aberta com magia

Humorosa

Olá mundo, poderia eu escrever, como escrevem aqueles senhores das internetes e das programações que se já odiava começo a odiar cada vez mais. Não é um ódio verdadeiro, é um ódio de desabafo por me sentir tão diferente deles e da sua forma numérica de processar o mundo, e essa diferença me custar a possibilidade de um trabalho bem pago, sem muitas chatices e inserida numa rodinha dentada de hamster. É aquele ódio de desespero de "se eu fosse assim já tinha arranjado trabalho" que vem acompanhado por outra voz interna meio rouca e fininha que me diz ao ouvido "mas deixavas de ter uma vida, a tua. É isso que queres?". E eu aborrecendo-me com as duas, deixo-as a discutir e venho-me embora, cabisbaixa com a complexidade disto tudo. Será arranjar trabalho assim tão importante ao ponto de, por não o ter, estar cada dia que passa com mais urgência e com aquela sensação agoniante de que qualquer dia "aceito qualquer coisa" que me atropela todas as maravilhosas intenções e esforços que envidei na busca por mim, pelo que gostaria mesmo de fazer e por essa luta de dizer não às coisas que seriam mais fáceis mas não alinhadas com o meu eu e com a minha estrela de valores e o diabo a sete. Estou naquele ponto da escarpa em que se dou mais um passo caio no abismo e me transformo naqueles seres rezingões que gozam com todas as pessoas que dizem "gratidão" e "segue o teu coração" e "faz o que sentes" e tudo e tudo... 

E o mais hilariante? É que eu era/sou (?) uma dessas pessoas. Não queria nada perder esse meu lado de fascínio com uma certa ordem neste caos, a do olhar da beleza, mas da que se concretiza. À minha volta parece que a Pandora não soube fechar a puta da caixa. Tal como o casalinho que comeu a puta da maçã quando lhes tinham dito que "era melhor não". E eu sou a Pandora, sou Adão e Eva, sempre com esta mania de desobedecer mesmo que depois me sinta tremendamente mal por ser assim. É uma não aceitação de grau X na escala de Richter. É uma exaltação, é uma inquietação, inquietação, inquietação como cantava o outro.

E no meio do turbilhão, um furacão, uma lagoa em chamas abertas dentro de mim, do meu âmago, numa montanha russa com parafusos que ora se soltam ora se apertam, um fósforo a queimar que nunca mais vê o fim, e uma canseira à alentejana que só dá vontade de mandar tudo foder.

Fui de férias ao norte. Fiquei numa casa. Ou deveria dizer num labirinto de resiliência? Desde calor dos infernos, a barulhos intermináveis durante a noite, uma chaleira ao lume a fazer favas que não dava descanso aos ouvidos e luz de estádio de futebol a iluminar o colchão pequeno e colado ao chão do quarto que imobilizava o corpo como num caixão, a tensão e elefantes diários nas pequenas escolhas diárias que se tinham que fazer, foi de chegar ao dia de visitar o Siza nas suas marés de Matosinhos e perguntar-lhe onde é o ralo do Porto, que eu tinha que largar todas as águas que vinha acumulando dentro de mim.

Mas o mais irritante de tudo isto é que onde acumulei cansaços, acumulei esperanças, por cada mau houve um bom, e isso é o que me agonia neste vómito que fica preso na garganta e que se sente que está quase a sair mas nunca sai. Fosse um bebé e bolsava esta merda na hora. Mas não sou. Fica ali no vai não vai, no fala não se fala, no resolve-se não se resolve, no vamos investir, vamos ficar por aqui, é pior que o outro (que também cantava) "BAZAMOS OU FICAMOS?" E eu adicionaria o jargão-cantilena do norte, que eu devo ter sido de lá numa outra vida - CARALHO!

Tenho tantas decisões a tomar neste momento que me apetece dar uma de Nandinho (aka Fernando Pessoa) ir buscar o absinto e ver ficar a ver fadinhas verdes a mandar fodinhas nesta realidade.

Continuo chorona, rezingona, refilona, pouco crente e não quero ficar amarga. Mas puta que pariu que não tem sido nada fácil. Decisões, decisões, decisões, e pouca ação a fluir num sentido de mudar esta espiral desenhada com aquelas réguas infantis de fazer espirais. Fica bonito, mas se queremos ser nós a controlar, vai sair do eixo e fica uma linha fora do enquadramento, fora de si, fora de nós. Será que nós poderemos mesmo algum dia ser livres nas nossas escolhas?

Será que somos mesmo livres? E o que é isso do livre arbítrio quando tanta coisa dentro de nós condiciona as nossas escolhas e é quase preciso um mamute de força para nos atirarmos para fora da nossa zona de conforto de forma consistente, sem que entremos numa depressão profunda por fazermos a vida como nunca a fizemos antes e assim a mantermos?

Filosofias.

Comprei livros. Muitos livros.

Talvez a acusar cansaço dos livros do bem-estar, da moda do bem-estar onde eu quero(queria?) à força tanto entrar, de repente eu que não ligava nada à política quero entender-lhe o estado do mundo, perceber como é que chegámos a esta civilização capitalista porque espantosamente começo a querer pôr-lhe as culpas em cima e de repente entro noutro estereótipo maravilhoso de dizer que a culpa é do sistema (ahahahaha rídicula).

Viro-me para várias frentes em busca de fendas que me parecem oferecer possibilidades de saída, às vezes parece-me que já nem os meus pensamentos mágicos funcionam, e que estou presa nos limites de uma condição... Seja lá qual ela for. E perceber que se calhar questionar-me sobre ela talvez não me ajude assim tanto.

Será ridículo eu sentir-me normal quando faço compras num supermercado? Normal, normalizada, menos poeta, menos filósofa, menos rebelde, mais "enquadrada" num mundo em que me quero inserir (quase que à força), neste dilema de querer que me aceitem na diferença mas tentando ser igual? Dúvidas, dúvidas, dúvidas... Quase de certeza produto de estar ja quase há ano e meio com contactos reduzidos e digitais do ponto de vista social. Gostava de ser mosca de ressonância magnética para espreitar para dentro do meu cérebro e ver que luzes se acendem lá dentro agora. Deve estar um belo emaranhado, como os meus colares na mesa de cabeceira que ainda só não foram à tesoura porque agora sou uma pessoa muito mais "normalizada", ponderada, inteligente emocionalmente. É rídiculo chegar a um ponto em que só me apetece gozar com tudo aquilo que aprendi, que adoro aprender e que continuamente me salva a existência, essas teorias de sofrologia que até agora eu quero aprender. (Obrigada Marie. Do alto do seu avanço na história que foi a sua, continuo todos os dias a achá-la uma força da natureza e todos os dias me pergunto se já faleceu. Tenho saudades suas. De falar consigo. De olhar nos seus olhos, mesmo quando caiu diante de mim desamparada em plena aula minha e eu, socorrista mas pouco, a tentar serenar ambas as almas que olhavam para mim com alguma distância e urgência de serem acudidas e acolhidas).

Fragmento esta escrita porque é assim que me sinto. Fragmentada, com muita coisa para dizer. Sem saber a quem dizer o quê e sem saber muito bem como ligar os pontos. Como ordenar o sentir. Senti muito, tenho sentido muito, e quero continuar, quero mesmo. Mas há momentos em que constatar que a vida é tão mais complexa que o meu entendimento me fazem sentir pequena, incapaz, e sem poder (powerless), hopeless ... Mas é tão curioso porque tal como na minha relação com o trabalho por vir, como na minha relação-relação, também aqui eu tenho a justa (?) medida do equilíbrio (?) e por cada coisa boa tenho uma má, por cada pensamento de esperança tenho um de desespero, e por cada momento em que congelo com o medo da morte, vem de dentro de mim uma força de querer viver...

Ocorre-me a palavra imanência do fundo das entranhas e nem sei o que é que ela quer dizer. Vou ao priberam. Diz-me que é a Existência da causa na própria causa."imanência", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2021, https://dicionario.priberam.org/iman%C3%AAncia [consultado em 01-09-2021]. 

(copio e ele cola-me aqui o link só para terem a certeza que lá fui! Até os dicionários estão a ficar egóicos. Não vá alguém dizer o mesmo e não citar a fonte. Como se as fontes viessem todas de sítios individuais e não fossem oceanos que correm juntos! Enfim... Continuamos a querer preservar a individualidade mas achamos que para o fazer tem que haver dela uma separação das águas que a alimentam. Só somos indíviduos em grupo. Porque se o formos sozinhos que termo de comparação teremos para dizer que somos únicos? E pronto... já me desviei de novo.)

Voltando à imanêcia. Não percebi. Talvez não tenha que perceber agora e por isso vou refrear o meu instinto normal de ir chafurdar até entender o que não entendi. Neste esforço de aceitar o fluir da vida e do seu mistério. De não tentar compreender tudo e ficar bem com isso (até me dá uma volta ao estômago, mas vou tentar... estou a tentar, a sério que estou.)

Não aguentei. Confesso que fui pesquisar mais. Dizem-me que é referente ao concreto, ao material e fico surpresa como o meu corpo me vomita palavras assim, sem eu as compreender intelectualmente mas tão acertadas no momento. Talvez o meu trabalho até aqui, aquele com que tenho gozado desde o início deste texto, me esteja a fazer regressar ao lugar onde sempre quis estar, dentro de mim, compreendendo o mundo com as vísceras, o coração e o cérebro e pondo-os todos a conversar no jardim do diálogo religioso. À procura de se religarem entre eles. À procura de me religare.

Por agora chega. Já foi tanto. Que a mensagem te chegue, como sempre, pouco laminada, pouco delapidada e com a crueza normal e confusa do meu ser, sempre com a transparência de um vitral colorido para que pelo menos te alegre a alma, ainda que pareça que apenas a vou tingir com uma coloratura do universo confusa, cáustica e embrulhada.

Aqui me tens. E aqui me encontrarás. E sei que neste momento tudo isto é encriptado para ti. És tu que me abraças e acolhes na totalidade da minha confusão. E espantosamente, devolves-me a crença na Graça, neste mistério da Fé. Na magia. No saber que isto era suposto ser assim, jargões e palavras bonitas à parte. Uma certeza latente de que pelo menos não estou só.

22
Jul21

"Toda a noite ..."

Humorosa

Há aquela música que canta "Inesquecível.... é o que é ... inesquecível ....."* e eu poderia substituir esta letra por "Susceptível.... é o que é... Susceptível.... é o que ela ééééééééé..." 

Estou azeda. Disseram-me isto.

Disseram-me que o meu outro lado da empatia desmedida era isto de ser susceptível, sugestionável, influenciável, manobrável, manipulável, vulnerável, impressionável e outros sinónimos que parei de pesquisar só para provar o meu ponto, que até disso já estou cansada. 

A verdade é que fiquei chateada porque isto é verdade.

Senão veja-se. Estava eu, a gerir o melhor que posso e sei os meus belos (es)pasmos continuados nos gémeos, a dormir na boa, a gerir pensamentos hipocondríacos com pensamentos super heroicos de quem já fez tudo o que podia, e por isso agora tem que esperar, e subitamente, num jantar com um amigo, ouve-o balbuciar que ele não tem andado a dormir nada e de repente, como uma gosma, entra o meu lado de auto sabotadora a relembrar-me que as minhas noites bem dormidas estavam a ser estranhas, que o normal, seria, ainda para mais com assuntos por resolver para lá dos (es)pasmos (nomeadamente, tomo a vacina do covid, tomo uma merda natural para fazer detox ao fígado depois de ter feito uma reação alérgica a um creme natural e também ele de plantinhas e o raio, quando é que vou finalmente começar a trabalhar e em quê uma vez que o meu subsídio acaba em Março do ano que vem e já estamos quase em agosto, continuo a mandar cvs? abro um negócio meu? entro mesmo pela via dos recibos verdes que para mim são tão enormes quanto um adamastor? como é que se vive esta cena de um dia de cada vez quando se é daquelas pessoas que tem uma agenda para tudo? E como é que continuo a adiar a minha vida?) e de repente... A PRIMEIRA NOITE MAL DORMIDA.

Um misto de "que se foda" e um "a culpa foi minha" tomaram-me de assalto, sempre ao som da discoteca peçonhenta do "Susceptível... é o que você é..." e no meio desta irritação, tento salvar-me a mim própria tomando um banho, abraçando a minha alma com as mãos no peito e o calor doce que me acalma quando elas lá repousam brevemente. Tem sido o meu toque, o meu "acolho-te como estás" que me tem valido.

Gradualmente nestes momentos de incerteza, dúvida e raiva, tenho procurado que a alma irrompa em minha salvação, aquela parte de mim que me acolhe com a Graça divina e me relembra sem recurso a palavras, que está tudo como deve estar.

Posto isto, claro que está que a noite passada repeti a graça (sim, a graça com g pequeno, porque pelo contrário a outra Graça tem-me bafejado bastante nos últimos tempos), e já não sabia se era do calor, da "hómidade", dos chineses ou dos vizinhos que decidiram dar início à construção da capela sistina às 6h da manhã, e acordei novamente com uma sensação de frustração de criança. Aquela sensação de quem quer comer gelados o dia todo como refeição, sabe que não pode, mas faz birra mesmo assim.

Ontem terminei o dia com aceitação e tranquilidade ao lembrar-me da frase que abre o livro que mais gostei nos últimos tempos (O caminho menos percorrido de Scott Peck) - "A vida é difícil", e ainda assim hoje "acordo" a desejar que fosse fácil, como o comum dos mortais (que também sou), a praguejar que este gémeos nunca mais voltam "à normalidade", com medo da morte (como de costume...), com medo de que passe o tempo e eu não o agarre nesta viagem de regresso a mim.

Sinto-me tão a cheirar-me, a quase-chegar-a-um-bocadinho-mais-Eu, que não queria perecer agora, não agora que estou tão perto de mim, tão quase-a-chegar-me, quase-lá, não quero quase-lá-chegar, quero viver o tempo suficiente em Graça, ou com pequenos momentos de Graça que me convençam que estou no Caminho, seja do bem-estar, seja da paz-que-quero-ter-quando-morrer.

Se por um lado saber que vou morrer me acelera esta urgência do Hoje, por outro lado angustia-me com a previsão de um amanhã que desconheço. 

Faço birras de criança porque queria que as decisões fossem mais fáceis, mais preto ou branco, mais isto ou aquilo, mais como as lentes dopadas que eu uso e que me faziam crer que o mundo funcionava de forma binária. Mas não. Tenho vindo a descobri-lo num espetro de escolhas sarapintadas por cores num degradé que nem sequer é perfeito, tal como a vida, e ainda assim perfeito na sua imperfeição de ter tanto dentro de si invisível a alguns olhos.

Encontro-me com a leveza numa música que toca, um piano que acolhe por dentro esta dor-de-ser, esta tentativa de viver-para-além-da-dor-da-existência, nesta leveza que tanto me caracteriza e que leva pessoas a reagirem por perto, como o senhor que me mudou o contador de gás ontem, dizendo que "era preciso mais pessoas assim bem dispostas como a senhora, anda tudo tão para baixo", este mesmo senhor, que sendo mais velho que o meu pai, me dizia que não sabia escrever a palavra "dígito" e eu, com a humildade, cuidado e carinho que tenho pelo processo de ensino que me sustenta como pessoa, lhe soletrei letra por letra, num processo cuidadoso e amoroso de quem ajuda a elevar o outro, como só a minha alma me grita para fazer. Esses são os momentos em que não duvido, em que a convicção é tanta, que eu sei que só posso fazer isso. Isso e os momentos em que ajudo ocasionalmente desconhecidos a pagar as suas compras, pagando eu em cartão, porque naquela caixa não lhe era permitido o pagamento em dinheiro, ou indico onde está o caldo knorr mesmo não sendo empregada da loja... 

Nada disto me retira, tudo me acrescenta.

E aí não tenho dúvidas. Essa é a minha convicção. Mas e se eu não puder fazer disso um trabalho? Mas e se eu não encontrar esse(s) espaço(s) que me acolham e que seja(m) espaço(s) que não me acossem ou expulsem? 

E depois vem-me a frase da susceptibilidade que foi acompanhada por uma ainda melhor, e tão ou mais verdadeira do que a anterior: "Quando ressoas com o outro e com as suas necessidades de forma quase automática levas deles o melhor mas o pior também. E olha que vem muita merda."

Susceptível ou não a estas palavras, fiquei sem saber como poderia resolver este problema de ressonância, e com as minhas lentes preto-e-branco, tive o instinto de passar ao polo oposto de deixar de ajudar, ensinar, envolver-me com, dinamizar, provocar o outro, na esperança de não ser contaminada com o seu lodo, já que já tenho o meu a sobrar e por vezes a extravasar.

Mas rapidamente percebi que talvez seja algo que não posso mesmo abdicar, porque poucas foram as coisas que gritaram tanto por mim como esta de me envolver no outro na tentativa de uma fusão primordial com o lugar-de-onde-todos-viemos. Há mais metafísica nisto do que só caminho a percorrer. Talvez até um destino, ou um lugar-que-preciso-de-ocupar nesta nova vez que me fiz consciência. 

Como poderão perceber meus senhores, os meus serões de conversa com o meu pensamento são qual temática da revista TVMAIS ou TVGUIA.... De um cor-de-rosa místico à procura das verdades no seio das mentiras que diariamente todos contamos uns aos outros.

Em resumo, agora que tenho cada vez mais a consciência de que vou morrer, que não controlo quando acontecerá, que não sei como será, que hoje estou aqui e amanhã posso não estar, há coisas pelas quais não quero ter que voltar a compactuar, como ter que voltar a um trabalho-subsistência-que-me-mate-lentamente, ou relações desapaixonadas que me extingam a chama que me alumia nesta terra, ou dores e doenças que talvez consiga retardar com auto-cuidado e auto-amor. Quero muito viver perto de mim. Numa relação comigo. E essa relação só é possível se for curiosa, apaixonada e criativa. Enfim... 

O tumulto voltou ao meu peito. E aqui dançou ao som do Toy - "Toda a noite.... toda a noite..."

 

___

* Referências musicais abaixo:

 

 

23
Jun21

Solta-te, liberta-te

Humorosa

Bons dias a todos e a todas e a todx e a cenas e a coisas.

Ou "Menu Bom dia!" como disse um rapazinho que ao meu lado queria pedir um Menu pequeno almoço na padaria portuguesa.

Mas adiante.

Hoje venho aqui expurgar primeiro os meus demónios raivosos, ao som do Solta-te, liberta-te, isto porque ando aqui num desatino que, ou é de estar a caminhar para cota, ou então é só aleatoriamente chato mas ainda assim irritante.

Ora pois que quem acompanha o meu rico blog sabe que eu tenho nos últimos tempos sido afortunada e me safado de problemas de maior após duas quedas, uma de cu, outra de joelhos, uma situação de desemprego, dentes do siso e lá o caralho, problemas relacionais e existenciais, e ainda - cereja no topo do bolo - lidar com a minha Ansiedade, ou miss Alice como gosto de lhe chamar que por vezes toma várias formas antes de me visitar, seja sob a forma da bela Insomnia, ou do tremelique vibrador, ou do coração-tunning-de-chelas, enfim, uma míriade de formas e desenhos que só ela sabe inventar. Às vezes vêm todos! E aí "vamos fazer uma festa....bolo e laranjada muitos doces para ti... é o teu aniversário...."*

Pois que no meio deste fadário todo, tenho agora também para tocar no álbum "disgraces not so bad because you're still alive" as seguintes músicas:

  • Allergo - uma música cujo beat é feito só com fungar de nariz, pingos de água límpida a cair em lenços de papel e um som áspero de coceira em braços humanos. O refrão é mais ou menos assim:

"Ácarosssssssssss, pêloooooooosssss,

pequenas partículas bailando ao som dos ventos

retirando-me capacidade de pensamentos

deixando vermelho o meu nariz, tal qual petiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiz...

parece constipação, mas não é não,

sei o que é sim... Atchim atchim atchiiiiiiiiiiiiiiiim..."

(obrigada, obrigada, obrigadaaaaaaaaaaaaa!)

  • Flash Lux - uma música visual, feita com dois gémeos em descanso, mas que quando observados ou simplesmente em repouso se assemelham a mesas de mistura com pads luminosos que vão libertando as cores de forma aleatória, pulsando sem que seja pedido e/ou necessário. Este é o conceito de música inaudível visual aleatória. Gémeos cujos impulsos elétricos estão ao rubro em descanso. 

 

  • L'atom dubious - uma música vibracional que só se sente mas não se ouve e que mete todos os átomos em dúvida de tão intensa que é a sua frequência. Arranha por dentro, dá desconforto e faz sentir como se todos os vidros do nosso ser se fossem partir a qualquer instante. É o som da duvida existencial. Do "o que devo fazer?" "Devo escolher uma vida mais fácil, mais em fluxo? ou devo escolher a difícil, a mais dura, a que tenho que fazer overcome para ser mais e melhor?" 

 

Por fim, the last but not the least...

  • Hippocondriah - uma música ambiente sempre presente que sussura baixinho sensualona como aquelas vozes do "me liga vai". "É desta que quinas..." "É disto que vais." "Vai ser grave..." "De certeza que é grave..." "Já viste há quanto tempo andas a ouvir essas canções? Tá grave..." "Bué grave..." "Vai ser o martírio..." "Prepara-te... Estuda tudo, aprende tudo...vais precisar". E assim, sensualona, tenta seduzir-me para o seu espaço (muito pouco) seguro onde vou ser devorada por sereias que na verdade são bichos do mar.

E é isto meus senhores, as músicas que andam a ser o meu dia-a-dia, e que rolam pelo altifalante do meu ser.

Fui...

(só ali baixar o volume).

 

-----

* Música referenciada:

Mais sobre mim

foto do autor

Arquivo

  1. 2022
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2021
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2020
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
Em destaque no SAPO Blogs
pub