Era para ser uma história infantil (só que não), mas afinal sim.
Tinha-vos prometido uma história infantil caso a Ressonância Magnética corresse bem com o título "A minha primeira ressonância Magnética".
À primeira vista pensei escusar-me de o fazer porque o meu primeiro impacto, após o processo de quase 1 hora, imóvel no tunelzinho de cabeça e pés de fora a congelar a alma e os dedinhos todos, foi de que correu mal como a piça.
Toda uma pressão para estar quieta, um pé dormente que começou a subir à perna, 3 técnicos a rodarem entre si, "vai desistir agora?", "está a ficar ilegível", e um "o pior é para si..." depois, e olhando obviamente para a situação com alguma distância (de apenas 1 dia), reparo (com a ajuda de quem sabe ouvir, entender e acomodar a minha existência) que não foi assim tão mau e que não fugi, encarei o melhor que pude e fui grande em coragem, num exame que por si só já é difícil.
Assim sendo, retive a minha aprendizagem e consegui compreender que há uma dificuldade generalizada de acomodar a minha diferença, fazendo-me sentir anormal, estranha, mariquinhas, piegas, sensível e com a mania que preciso de psicoterapia para a vida toda.
Como se tudo o que se sente não fizesse sentido refletir para aprender mais e melhor sobre o mundo, para nos vermos refletidos nele, para olharmos para o que somos e podemos ser.
De repente já não estou na ressonância magnética, ou até poderei estar, mas desta vez os feixes que são disparados na minha direção, são mais uma vez feixes de incompreensão e invalidação do que sou, da forma como vejo a vida, e são levados como "as coisas são só o que são. Nem toda a gente anda para aí a fazer psicoterapia e a refletir sobre tudo o que lhe acontece..." e de repente passo por vários níveis de emoção:
1. Dor no peito por sentir aquelas palavras como uma flecha que invalidam na totalidade a minha forma de viver o mundo;
2. Tristeza por estar a ver que a cada dia que passa o fosso se afunda ao invés de se aproximar
3. Raiva que utilizo para bradar aos céus "NÃO PRECISO DE PENSAR COMO TU. E SE QUERES CONTINUAR NESSA VIDA SEM REFLEXÃO FORÇA... SÓ NÃO ME FAÇAS SENTIR QUE EU NÃO PRECISO DELA. ELA É VÁLIDA PARA MIM, EU SOU ASSIM, SE NÃO TE SENTES BEM COM ISSO É PROBLEMA TEU. LEVA AS TUAS CONVIÇÕES PARA ONDE QUISERES MAS DEPOIS NÃO ME VENHAS PEDIR AJUDA QUANDO O TEU CORPO TE FAZ AFUNDAR NUMA INÉRCIA QUE NÃO SABES DE ONDE VEM. PROTEJE-TE DE TUDO, DE TODOS OS PROCESSOS REFLEXIVOS PARA NÃO IR DOENDO E DEPOIS ESPANTA-TE QUE O CORPO TE GRITE!!!!!!!!!! E ISTO NÃO É UMA QUESTÃO DE VISÃO, OU DE MINDSET, É UMA QUESTÃO CIENTÍFICA, COMPROVADA E MESMO QUE NÃO FOSSE, ISTO TUDO ESTAVA DEMASIADO BEM MONTADO PARA SER APENAS ALEATÓRIO. DIZ COMIGO: TODA A CAUSA TEM UMA CONSEQUÊNCIA E TODA A CONSEQUÊNCIA TEM UMA CAUSA. (Tou tão fodida a escrever isto que quase afundo as teclas do pc para dentro mas adiante...)
E neste momento penso que ultimamente tenho feito um esforço enorme, hercúleo, para criar momentos criativos, diferentes, expansivos, numa tentativa de te mostrar o meu mundo e sentir-me bem neste espaço a dois, e de repente vejo (COM MUITA PENA) que a motivação está pelas ruas da amargura...
Não pude deixar de pensar no que sinto, e na forma como já me estou a começar a borrifar para as partilhas que faço contigo... lembro-me bem de num passado distante me dizeres que enquanto estavas a trabalhar não gostavas de ser interrompido pelo meu ressaltar palpitante de alegria quando recebia uma encomenda e ta queria mostrar no momento, lembro-me bem de como as minhas tentativas de sensualizar, sair, fazer diferente, eram completamente bloqueadas, e de como tentei acomodar isso tudo, mas agora onde está essa vontade? Essa energia?
E de repente no meu fundo, no fundo da minha pior pessoa, penso e dou graças a Deus pela pandemia e necessidade de afastamento social... de estarmos confinados à mesma pessoa, e não a novas pessoas, Novinhas em folha para me iludirem e reluzirem como cristais acabadinhos de limpar com ajax... (e olha que eu sei que nem tudo o que reluz é ouro, mas só para ter o prazer de me voltar a sentir sensual, querida, desejada quase que valia a pena cagar no Covid... quase)
Há tanto dentro de mim que eu quero abraçar. Que eu quero amar. Mas todos esses pequenos pedacinhos que te entrego são condicionados ao momento, ou ao não momento, ao respeito individual, ao espaço que não se trespassa, ao espaço interno que já demorou muito a chegar onde está e que agora está guardado com bulldozers e seguranças E EU ESTOU A VER MUITO BEM. Porque quem vê de fora vê tão melhor do que quem está dentro a dormir em serviço (porque não refletes...) sabes? e repara... caguei, vou parar de vender a minha ideia para respeitar a tua... é legítimo sermos diferentes sim senhor...
mas se isso terminar o que viemos fazer um com o outro... So be it.
Cansei de ser sexy.
Cansei de querer que o meu lado da barricada ganhe.
Vou só ali aprender a ser eu, a gostar de ser eu, da "diferença positiva e única que causas no mundo" e se por acaso ainda aí estiveres quando eu voltar logo vemos...
Senão sabes?
Como aprendi hoje...
É melhor aprender "a errar depressa".
É mais útil,
Mais rápido,
Mais eficiente como tu tanto gostas. Para não perder tempo. Bem feitinho até nos colocávamos numa app e ela fazia a validação do match. Oh espera... Nós conhecemo-nos numa app... (sentes o ácido?)
Por outro lado, como dizia o meu amigo quase astronauta, "Como podes saber se gostas de donuts se só pensares neles? Precisas experimentar e sentir para saber se gostas ou não."
E é isso que vou fazer...
Em conjunto com a recomendação da minha querida Diana:
"Dê-se tempo para perceber..."
PS: Auto aviso à navegação: Não te esqueças que a tua abordagem funciona para ti, serve-te, e por isso não tens que abdicar dela!!! Não deixes que os outros continuem a invalidar a tua realidade, a dizer-te que não podes estar sempre em processos reflexivos. Podes fazê-lo porque tu já sabes quando parar, quando vale a pena, quando não vale, tu sabes. E mais, faz parte da tua necessidade de estímulo intelectual, de curiosidade, de compreensão e de atribuição de significado ao mundo. É a tua experiência. É especial e única. Se não compreendem está tudo bem. Quem perde é quem não tenta penetrar no olhar do outro com curiosidade. Eu faço isso. Eu considero sempre isso. Quem não faz é quem perde.