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Humorário

(um diário de rir para não chorar)

(um diário de rir para não chorar)

Humorário

22
Mar21

Não vim com manual de instruções

Humorosa

Esta é a carta que gostaria de endereçar a quem me enviou a este Mundo-Escola para aprender o que é ser pessoa.

Perdoem-me a lírica bocágica e a sua mistura com a verborreia camoniana, mas não sei ser de outro modo e creio que estou cada vez mais a aprender a gostar disso. Aqui vai.

"Caro Deus, Universo, Cena celestial, ponto denso gasoso no céu, e seus respetivos anjos, arcanjos e outros seres de luz,

venho por este meio junto de V. Exmas. apresentar o meu desagrado e pequenina irritaçãozinha, pelo facto de não me terem mandado à Terra com manual de instruções. Não percebo um caralho disto. A cada dia, esperava eu, ficando mais velha, pensava que iria ficar mais fácil, mas puta que pariu, não fica! Se passo uma semana com noites divinalmente bem dormidas, outras há em que mais valia nem vestir o pijama. Se há dias em que sinto que sou a rainha do mundo, outros há em que me sinto mais pequena que o ácaro que me faz espirrar (e que nunca vejo, cabrão.) Depois há dias em que acho que estou finalmente a perceber como funciona o mundo (para mim), e de repente vem a vida como sabe tão bem fazer, ser um puto de um camião TIR e bufaaaaaaaaaaaaaaas joelhos no chão, mão no chão, feridas abertas até à carne, trata aqui, sara ali, arde para caralho acoli, e tem que andar mais devagar e fazer repouso menina...

MAS EU NÃO SEI ESTAR QUIETA.

Sinto-me bem a mexer, a dançar, a interagir, a movimentar o corpo, a criar dinâmicas, a fazer yoga, é aí que me sinto eu, e se calhar TU (Deus, Universo, ponto denso de gases). Ainda não me percebi bem. Há dias em que sinto que quero muito movimentar-me porque te encontro nesse movimento e ainda por cima quando estou aí não tenho medo da Morte, e há outros em que sei que se não parar, algo me vai parar antes que eu queira. E aceito parar. E fico. E sereno mais. E reflicto mais. E pondero mais. E escrevo mais. E tudo e tudo e tudo.

Mas porra, é imperdoável esta merda de não haver previsibilidade e ao mesmo tempo meteres-me dias quase iguais, sensação de que estou num loop infinito de acorda-deita-acorda sem se passar nada de novo e extraordinário, e que já gastei todos os jardins para caminhar aqui à volta de casa... Já inventei todos os jogos para fazer, mas até de mim já estou às vezes um bocadinho cansada. Dos meus jogos, criações e depois crio de novo (porque só criando faço frente à morte. Crio para destruir a morte dos elementos que em conjunto fazem nascer nova energia, novo mundo, novo eu.) E depois fito o horizonte. E fico cansada a pensar se será uma luta inglória. E depois lembro-me que não é luta, que é dança e que eu adoro dançar, e como danço... e como tenho saudades de dançar. E logo eu que dancei dança do ventre. O circular, o jogo de cintura, a sedução da vida. E de repente pareço tão quadrada, qual valsa compassada, que se repete num jogo geométrico de sol-nasce-sol-se-põe.

E eu aqui. Assistente disto tudo. Participando disto tudo. E achando que percebo de um bocadinho de um qualquer isto, descubro que não percebo nada.

Caríssimos, para que inventaram vocês o manual de instruções se não me presentearam à vinda com o meu!?

Seria tão mais simples nestas horas de aflição, em que não se sabe como se deve proceder, (se é que se deve merda alguma) ir à página x do manual xyz ver a definição da melhor ação possível. Como se fosse um resultado de jogo de dados, que nos manda avançar para a casa 1 pelo trilho a, com passagem pela ponte pedonal b, falando com a pessoa y e dando atenção aos buracos na rua t.

ERA TÃO MAIS FÁCIL CARALHO!

E esta merda espetacular de eu ter uma visão do mundo que é SÓ minha também é gira sim senhor, e permite estes textos trágicómicos, e que outras almas que vibrem em frequências parecidas se revejam, se sintam curiosas, se incendiem também através deles, mas puta que pariu meus senhores, não seria mais fácil se vocês oferecessem uns óculos com uma app que permite ao outro, olhar o mundo com as nossas lentes para que nos entendessem, compreendessem e quiçá validassem!?

É que já nem sei o que dizer dessa conversa yogui de tens que te bastar a ti mesmo. Somos seres sociais for GOD sake. Podemos obviamente não estar nem aí para a opinião dos outros, mas terão que ser "outros" bastante irrelevantes. Não podemos cagar na teia do mundo das pessoas, porque meus queridos... dependemos uns dos outros, logo essa ideia de ser asceta no cimo do monte parece-me ser só via para alguns que cá vieram e já foram ou andam ao engano ou sei lá, é mesmo o seu propósito de vida (se é que essa merda existe mesmo. Depois mandas cá pra baixo um filme como o Soul e uma gaja fica ainda menos esclarecida, sim, porque com a quantidade de life coachs que para aí anda a apregoar "encontra o teu propósito" já não percebo um pequeno caralho quanto mais dois.)

Para além disso, dentro desse mítico manual poderias dedicar um outro manual que desse indicações para as relações interpessoais, a.k.a. como não estragar relacionamentos amorosos, de amizade, profissionais e ainda sentir-se realizado em todas elas, sem abdicar de merda alguma em alguma delas, ou abdicando, um manual de como lidar com essas escolhas de merda que se têm que tomar. Isso porque não quero cá antidepressivos que com essa bosta não sinto nada (been there, done that, don't want to go there anyfucking more...May God bless me). 

A sério! Se me explicarem só, como realizar uma escolha sem abdicar de algo, sem renunciar a algo, já abdicava do manual (um bocadinho só!). Não sei que coisas dizer, a quem dizer e como dizer, aprendo como se deveria dizer, fazer, e construir, e de repente como se fosse um elefante numa loja de porcelanas esmerdo tudo, esbardalho tudo, e penso para mim..."Here we go again". E agora que escrevo isto estou a ler-me a achar que sou uma verdadeira Drama queen, e que quem ler isto vai ficar com a sensação de que eu sou uma inadaptada da piça, azedinha como a nata que passou da validade há um mês, e/ou achar que estou com uma depressão ou início disso.

Pois que vos informo que não é nada assim. Que tudo isto que boto cá pra fora é simplesmente ligação direta ao meu veículo espacial que me transporta neste planeta. E por ser ligação direta às vezes pode dar choque. Não é o mesmo que uma chavinha bonitinha na ignição à qual se dá a volta e tudo funciona, tudo se movimenta, tudo está em conformidade.

Queria tanto saber qual a melhor opção para a escolha, queria tanto não ter que ficar a cismar se fiz a melhor, se poderia ter feito de outro modo, se a minha escolha terá uma consequência dolorosa ou até agradável. Queria saber também se esta sensação de desorganização que sinto no peito (que me faz sentir que os dias são iguais a si mesmos, mesmo que eu encontre sempre pequeninos pedaços de diferença e os leve no coração como pequenos balões de oxigénio que me animam a alma) vai passar rápido.

No livro de instruções também deveria de aparecer um capítulo dedicado a paragens de emergência e a instruções em caso de emergência. É que sinto o peito desorientado num choro que quer começar desmedido, mas que eu não quero que se instale. É como se eu quisesse parar a cheia que sinto que pode principiar a qualquer momento, porque esse não é o sentimento que eu escolhi para passar os meus dias. Já agora, se me ensinassem a ser mais resiliente, a resistir ao desespero depois de mil "nãos", a sentir-me confortável nos dias menos bons sem ter um desejo imediato de resolver o desespero da forma mais imediata possível... também era um serviço à comunidade. Ou isso, ou deixarem escrito no manual. Ajudava sim senhora.

Digo muitas vezes que quero paz, que quero tranquilidade, que quero calma... porque sempre me senti no lado oposto da montanha russa, nos picos altos e baixos e nunca naquele caminho que segue tranquilo a ver a paisagem como o comboio do Douro. Mas quando se me é ofertada a possibilidade de a sentir, de a viver mais a fundo, ocorre-se-me um medo que vem das entranhas como se não conseguisse Ser sem ter algo que Fazer.

E mais uma vez aí, entranha-se em mim a sensação desagradável de não perceber nada disto, de não ter sido convocada para esta jornada com o meu conhecimento, e aqui me encontro aos apalpões, aos pontapés, cotoveladas, joelhos no alcatrão e mão no chão, esfolada mas ainda viva, à procura do caminho que se calhar até já estou a percorrer mas que nestes dias mais atrozes de plena desorientação acho que não. (Apesar de já ter sempre aqui um grilinho falante dos bons  (e não dos chineses) a dizer que vai passar, passa sempre, já sabes que este é o teu ciclo desorganiza-organiza-desorganiza-organiza)

Se calhar era só atualizar as tais lentes. Se calhar elas estão já gastas, desalinhadas, pequenas, baças... Se calhar já me diziam também como é que se mudam estas lentes assim de forma mais fácil não?

(odeio essa vossa formazinha irritante de o nosso coração saber a resposta!)

E a forma como aparece na nossa mente, como um balão reluzente, a palavra "Aceitação" bailando como se fosse resultado de uma meditação profunda.

E como é se aceita?

E veem? Continuo na idade dos porquês. Parece que aprendi tão pouco...

Seria mesmo útil o tal manual de instruções.

Seria mesmo.

Por favor..."

09
Dez20

Fui despedida (a novela)

Humorosa

Vamos a factos.

Estava a gaja em teletrabalho quando a informam que se precisa de deslocar até ao escritório presencialmente. Ora pois que nesse preciso instante se adensou no ar o cheiro a cocó, e o estômago apertou de tensão. Claramente andava por estes lados a pairar algo que quando caísse ia cheirar muito mal.

Obviamente, ou quase óbvio, nessa noite dormir foi assim meio a fingir, de olho meio aberto outro meio fechado, e uma constante tensão como quem se prepara para um combate de boxe no ringue (não sei se sugestionado pelo filme sobre o Muhamad Ali (não sei se é assim se que escreve, pardonez moi my french)) até chegar o momento.

Entre as mil tentativas de controlar o discurso que iria chegar até mim, e de controlar a minha reação, havia uma que não estava a equacionar e que o meu Respetivo fez questão de colocar ante meus olhos: "Podes não ter escolha." E guess what, não tive.

Chegada à reunião, olho pintado, rímel na pestana, cat eye e eyeliner sob a égide do mantra "não chores caralho, não chores caralho, não chooooooooores" (porque se chorasse borrava a minha exemplar maquilhagem...) ouço, por detrás de um encolher de ombros que me remeteu para uma pequena criança aborrecida e a puxar a lágrima de cãocrodilo, "não tou a aguentar mais, não dá. Vamos ter que chegar a um acordo". Nunca foram proferidas as palavras despedida, despedimento, dispensada, nada. Apenas uma cena melodramática de "não consigo mais, ando a fazer tudo mas não dá." (Ocorre-me agora a música que me teria ocorrido naquele momento caso não estivesse tão em brasa. "Ela diz que não dáaaaa... não dá não dá não dáaaaaaaaaaaaaaaa...")

E um: "Ok. Posso ir para casa?"

Fui, fodida com o facto de ir e querer transgredir mas a puta de chuva que se fazia sentir lá fora, com vento e o catano também não convidavam a nenhum copo de vinho no jardim, e lá fui eu, enfiar-me atrás do pc à espera que o dia chegasse ao fim.

Chegou. Depois disso, foi o epítome do que considero ter sido o alinhamento planetário mais surreal da minha existência enquanto pessoa.

Aqui a gaja tinha alinhado uns dias fora, (ainda que no país), mas dado a possibilidade de wi-fi e de haver um feriaducho no início da semana, prepararam-se umas noitinhas no meio do campo algures neste Portugal plantado.

Não é que... No dia imediatamente a seguir ao do meu despedimento, estando eu no real caralho rural, por detrás do sol posto, ali prós lados da coxixina, a almoçar num restaurante (de muitos que lá haviam), me encontro com a real alminha que no dia anterior me tinha despedido?!

Pois como devem calcular, aqui a gaja não estava com a maior das vontade de ir lá dar um "OI TUDO BOM?" e decidiu utilizar o seu Respetivo como escudo protetor daqueles tipo "This is Esparta" e dar uma de Diva tipo princesa Diana, olhar para cima, como quem olha e aprecia o belo teto que se afigura de adega, e segue em frente sem dizer nada e não bota olho na mesa.

Passa-se o fim de semana.

Chega-se a segunda e recebe uma mensagem com o tom com que a minha mãe me chamava da cozinha pelo primeiro e segundo nome. "Às 9h00 falamos". (só faltou o "minha menina").

Como aqui a gaja é burróide porque se importa, às 9h00 já estava em teletrabalho, toda ligadona apesar do espírito a querer prevaricar. Foi sol de pouca dura (até porque chovia pra caralho) e eis pois senão quando se sucede uma mensagem de revolta por parte de quem me despediu que se pode resumir ao seguinte: Não me cumprimentaste buá buá buá... por isso quero despachar-te mais cedo buá buá, o meu ego enorme não aguentou uma ofensa destas.

E aqui a gaja perplexa, num misto de angústia, choro e raiva, liga à sua mãe para carpir a alto e bom som à beira da piscina, "SÓ PORQUE EU NÃO LHE DISSE OLÁ!!!!!".

E passei um dia cheia de azedo na boca, que culminou na clássica retaliação de "Agora tens que ir todos os dias presencialmente ao escritório para passar pastas... (PORQUE EU NÃO FIZ PRATICAMENTE 9 MESES EM TELETRABALHO E RESULTOU....#rídiculo)

E aqui estou eu.

Ups.

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