Para hoje, um poema, que eu também sei ser uma gaja séria...
Começa a inquietação de novo.
Está cá dentro vai borbulhando e vai sumindo.
Hoje voltou a borbulhar.
Volta a borbulhar quando alguém com necessidades sociais apenas vê interações à distância, por uma janela que me deixa de fazer sentir humana.
Percebo que as necessidades não podem ser supridas só por uma fonte,
Mas depois sinto-me mal, como se escondesse algum cadáver que já morreu há muito tempo atrás.
Eu nem o matei agora.
Revisito esqueletos no meu armário e tenho medo de os trazer à luz do agora.
Sinto necessidades e impulsos de uma Humorosa de outrora,
Que na verdade foi definhando e perdendo força.
Mas ela está lá, sempre à espreita de uma aventura,
De uma novidade. De algo que lhe dê adrenalina.
O vício da novidade. O vício de explorar o novo. O vício de beber daí o néctar que a agita.
Olho para trás e sim, sempre fui muito inconsequente.
As minhas emoções levaram-me a sítios onde nunca pensei estar,
Sítios onde nunca pensei ir,
E lugares onde nunca me pensei demorar.
No entanto não nego que ainda estou ligeiramente apaixonada por essa Humorosa.
Como se eu não quisesse que ela morresse dentro de mim…
E sempre que ela principia a aparecer evocando-me com as suas canções doces de sereia,
Principia um duelo entre o que fui e o que quero ser.
Entre o meu espaço e o espaço do Outro,
Entre o meu espaço e o espaço dos outros.
E depois penso, repenso e raciocino no que devo ou não dizer,
No que é ou não relevante,
No que é ou não meu,
E na necessidade de o partilhar, de o expor em praça pública,
De me abrir por dentro para expor as minhas entranhas podres à espera de uma qualquer redenção,
Ou perdão,
Que não vem de mim…
Talvez porque cresci num seio em que a mentira vira verdade por necessidade,
Em que se oculta para preservar a individualidade e o conjunto,
Eu considere que tenha que dizer tudo,
Expor tudo, sob pena de acontecer o mesmo que aconteceu numa casa
Que por mais que pareça inteira,
Tem vidros de janela partidos por todo o lado,
E todos andam com mil cuidados,
Mas ainda assim,
Descalços.
(foi em Maio de 2020, mas podia tanto ser de hoje, de agora.)