Espaço no tempo
Preciso de espaço no tempo. Mesmo as jornadas do herói mais bonitas e inspiradoras precisam de pausa. De momentos onde contemplando os reflexos do que nos estamos a tornar, nos fundimos numa reflexão profunda sobre onde estamos e para onde queremos ir. Tenho por hábito ir a fundo nas minhas emoções. Torço-as, remexo-as, revolvo-as, retiro delas as lições que penso conseguir. E é importante. Sem isso não me consigo organizar. No entanto sei que o faço no desespero de querer transformar em cores as dores, porque sinto que já sofri demais. Como se isso sequer pudesse existir. Olho para as sensações desagradáveis como uma cruz que carrego e esqueço-me que são elas as guardiãs do meu corpo. Quero bani-las, quero sempre sentir-me bem. Quero estar sempre on. Quero não sentir o que sinto e no entanto ensino aos outros o que pelos vitos tenho que integrar de uma vez por todas... A dor é precisa e dá luz. Dá luz sobre o precisa ser visto, olhado e reparado. E então tenho que ver que tipo de dor é.... olhar para ela nos olhos, ver se são resquíssios de um passado que fui, ou se são pilares da minha identidade dos quais não posso abdicar. Mas para isso preciso de criar espaço no tempo. Criar espaço no tempo. Encontrar espaço para mim no Tempo. E dar tempo neste espaço.