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Humorário

(um diário de rir para não chorar)

(um diário de rir para não chorar)

Humorário

20
Set21

Quando o corpo te informa e tu não o ouves

Humorosa

A vida é difícil. 

Talvez esta frase tenha sido a melhor de todas, de todos os tempos, e que fez mais por mim do que muitos livros de auto-ajuda.

A vida é difícil lembra-me que todos os conflitos pelos quais passo são inerentes a esta condição humana de ser consciente. E, como diria o Damásio, numa adaptação humorosa da coisa, é a nossa maior benção (porque nos permite sobreviver dia após dia numa orquestração complexa de orgãos, tecidos e neurónios) e a nossa maior maldição (porque nos faz conscientes de que se a orquesta falha lá se vai a nossa integridade para o raio que a parta e deixamos de experienciar a vida tal como conhecemos - perdemos a consciência para sempre).

A vida é difícil. Não só do ponto de vista biológico porque é sempre uma tentativa de superação da entropia, mas também do ponto de vista psicológico. Vários fatores competem entre si e nós temos que ir encontrando as soluções de menor risco, as soluções suficientemente boas, porque isso de soluções perfeitas já há muito que entendi que só nos contos do Walt Disney e até aí as princesas disseram sim mais vezes do que aquilo que deviam.

E foi exatamente aí que me encontrei ontem. Num sim forçado por uma sensação de obrigação, porque se me vinha a queixar que não tinha e que tínhamos que fazer algo para ter mais, não quis ser vista como a gaja que não valoriza, que não validou o esforço e que não viu o outro, mas a verdade é que não me apetecia.

Depois de um dia em que o óleo do cabelo já me escorria pela cara porque foi dia de limpezas, ao facto de ter uma cozinha inteira para limpar e comida para fazer porque não queria deitar fora coisas que se estavam a estragar, ser interrompida nesse processo, fez-me sentir um dilema de merda. Ou ia pinar porque tinha passado o fim de semana a dizer que queria mas nunca tínhamos encontrado um momento adequado, ou então criava uma crise porque ele se esforçou e a mensagem que ia receber é que eu nem assim estaria disponível. Conclusão, pensei eu, como devem pensar milhares de mulheres, vou dar-me ao momento porque eu até tenho prazer e se calhar até saio revigorada, faço-o sentir-se bem porque me ouviu e deu algo à relação e agora aqui estou eu, às 05:23 da manhá, sem óculos, embrulhada numa manta, a escrever para colmatar as quatrocentas e vinte mil voltas que dei na cama. Lovely. 

E neste momento estou a tentar não ser dura comigo. Porque o único coro de vozes que ecoa dentro da minha cabeça é tudo menos celestial. Diria que se assemelha a um coro de mulheres brasileiras em poetry slam a lutar contra o patriarcado e a forma como ele se intromete nas nossas escolhas que deveriam ser livres. Ah mas espera, fui eu que decidi. E aí sim, começa a verdadeira chacina. A chacina que me leva de volta até casa, onde aprendi que devíamos regular as emoções dos outros muitas vezes à custa da nossa. Onde devemos fazer "comply" para que a vida seja menos conflituosa, confusa, mais vivível, menos sofrível. O meu corpo dizia terminantemente que não era uma boa ideia e eu forcei-o em prol da paz. Em prol de um dia que tinha começado meio estranho e que revelou convicções que me assustaram. Falou-se de as relações serem transacionais e de como isso "era assim". Falou-se de como se teria a certeza que se fosse eu a fazer certas coisas não as faria por comodidade. Falou-se com uma certeza tal de tantas coisas que me gerou a necessidade de fugir em direção a umas compras básicas onde me senti de novo empoderada porque me ressoou a conquista de demónios passados.

A vida é difícil.

E por muito criativa que seja, por muito reflexiva que seja, tenho momentos em que ainda não sei fazer melhor, em que, após a consequência da minha decisão, percebo que deveria ter tomado outra. E honestamente no meio de todo este caos, de não controlo, de inconstância, de sensação de que realmente controlo muito pouco, sinto-me À procura da luz a que me posso agarrar, tentando não me punir por estar a aprender, lembrando-me que fazer diferente custa e é por isso que há pouca gente a fazê-lo.

No silêncio da noite, esse silêncio poético que já não acolhia há muito, decidi não forçar mais o meu corpo. Já tinha tido esforço por hoje. Se ele me dizia que queria estar acordado, assim lhe dei esse espaço, assim o validei, assim o escolhi em detrimento de um software que às vezes quer tomar o controlo de cima para baixo, mobilizando com maior esforço e energia o corpo. Talvez essa seja a prova que ainda tenho algum caminho para estreitar entre mente e corpo. Talvez os eventos exteriores me estejam a oferecer ruído e por isso não consiga ouvir esse fluxo de água que deveria ser cristalino e estreito.

A vida é difícil.

E eu estou a tentar não me punir. Estou a tentar abraçar-me nesta falha. Neste momento em que escolhi e claramente escolhi mal. Em que tive uma consequência. Em que estou agora a lidar com isso. Num sonho aparecia-me ele a olhar para mim com a frieza que lhe senti ontem nas palavras "as relações são transacionais" e dizia-me "Já fomos mais felizes juntos não já?" e eu com lágrimas amargas na boca vindas de um peito a tremer dizia-lhe como uma criança que acaba que de descobrir que a morte existe "Já, mas ainda assim podemos fazer alguma coisa não?". Pueril. Sempre à procura de ver o lado dos unicórnios.

A vida é difícil.

Talvez devesse ir para o chapitô. Aprenderia como manter várias bolas no ar ao mesmo tempo, e a espalhar magia nos semáforos da cidade. E sorrisos também. Vejo-os sempre com uma energia verdadeiramente genuína. Invejo-os por momentos e quando posso dou-lhes sempre "valor". Seja uma moeda, seja um sorriso. Porque eles aprenderam como pôr no ar as várias bolas que a vida nos atira. Mas mais do que isso, fazem-no com leveza, com gentileza, com carinho, com amor, com uma energia pueril de quem sabe que está cá, unicamente para se conhecer nesta unicidade singular que é o nosso corpo. Talvez o sentido da vida seja interior. Seja explorar todas as potencialidades e conhecer ao pormenor o nosso único maior amante - o nosso corpo e o que ele nos permite sentir. Talvez as biografias se escrevam apenas porque existem corpos. Porque essas pessoas das biografias se decidiram a conhecer os seus corpos em interação. Porque lhes deram tempo, carinho e comprometeram-se a aprender com a enorme inteligência que ele tem. Achamos que somos nós os donos e senhores da Inteligência, mas apenas porque por uma feliz coincidência ela aconteceu dentro de nós.

[É o mesmo que me gabar de ter os peitos pequenos (peitos não, mamas!, que peito é o espaço entre elas...) quando já vim com eles. Não os escolhi. Para quê fazer bandeira disso?]

É aceitar que ela existe, que ela nos ajuda e que dela podemos desfrutar. E seguir, encosta acima, a rolar a bola, talvez numa encosta mais inclinada do que a Sísifo pensou, talvez modificando o nosso corpo nessa subida fortalecendo músculos, compreendendo o nosso interior nessa interação com o exterior. Talvez haja tanto mais nesta produção de ansiedade muitas vezes necessária e até benéfica.

A natureza funciona pela lei do menor esforço. E ainda assim a vida é difícil. Ou deveria dizer, e por isso a vida é difícil? 

O menor esforço significa aceitar à cabeça também os lugares de onde viemos, as crenças que nos fizeram crer e aceitar que a evolução é algo passivo. Por vezes penso que sim, por outras penso que não. E o mais giro que descubro é que ambas estão certas. Nesta unidade de schrodinger em que ambos os estados de vida e morte coexistem, compreendo cada vez mais (ainda que não cada vez melhor) que talvez, mesmo contra a percepção, tudo contenha em si, o que é e o seu oposto, e mais uma vez a natureza fez a coisa bem feita. De uma coisa apenas, à luz de cada singularidade que somos, o nosso sistema nervoso percepciona essa coisa de uma forma ou de outra, consoante aprendizagens anteriores, momentos presentes, enfim, uma panóplia de coisas que o corpo se encarrega de resolver e iterar dia após dia.

A vida é difícil. E neste momento é díficil não me sentir culpada por já saber tanto sobre tudo isto e ainda assim ter feito o erro crasso de, para evitar MAIS um conflito, ter cedido. E não consegui avaliar inteligentemente a minha cedência. Mas o corpo, esse que é o primeiro a ter a inteligência antes de mim, fez-me sentir com violência a violência da minha decisão. 

Sinto neste momento uma mistura de raiva muda, de um desespero amargo e uma sensação de vazio que veio de ontem para hoje, segunda feira, o dia dos inícios. E eu, para não me sentir à margem, decidi reiniciar as minhas aulas de dança. Estou fodida comigo. Ainda ontem pensava para comigo como andava a dormir tão bem, como era possível até, chegar às dez da noite e já ter sono, e o sono ser reparador. E logo hoje, dia de reinício, onde "deveria estar" repousada para dar ao corpo magia, dou-lhe isto (desculpa não te ter dado melhor). Neste momento estou entre o querer chicotear-me e o ter uma mão carinhosa que me diz para pousar o chicote. Que não faz sentido. Que o amor cura tudo. Que a única forma de aprender e reter a aprendizagem é com carinho, com meiguice, com alegria, para que esses pensamentos, tal como a carne, se reproduzam, se multipliquem, e esses sentimentos nos digam que sim, "é por aí". Nada se mantém e tudo morre se não tiver amor. Amor sob a forma de tempo, sob a forma de cuidado, sob a forma de carinho e compreensão. Sob a forma de compreensão de que a vida é difícil, de que andamos aqui todos aos papéis, a fazer o melhor que sabemos, e a sermos suficientemente bons na aprendizagem.

Sempre odiei a palavra Suficiente.

Neste momento quero, conscientemente, começar a gostar dela. Bocadinho a bocadinho, momento a momento. Porque percebo que se for suficiente, já é muito bom, e esse talvez seja o segredo para olhar para o perfecionismo nos olhos e lhe dizer que ele merece um abraço. E que não me vou punir. E que não o quero fazer. Porque já magooei demais o corpo ontem, não quero continuar a magoá-lo mais. Não é assim que se cura uma ferida.

(Eu perdoo-me por não ter ouvido o meu corpo. Eu perdoo-me por ter procurado validação. Eu perdoo-me por ter achado que aquela seria melhor forma de evitar um conflito. Eu perdoo-me por me ter entregue como no passado sem querer, apenas para cumprir com um objetivo.)

Eu perdoo-me.

 

01
Set21

Carta encriptada para o mundo só aberta com magia

Humorosa

Olá mundo, poderia eu escrever, como escrevem aqueles senhores das internetes e das programações que se já odiava começo a odiar cada vez mais. Não é um ódio verdadeiro, é um ódio de desabafo por me sentir tão diferente deles e da sua forma numérica de processar o mundo, e essa diferença me custar a possibilidade de um trabalho bem pago, sem muitas chatices e inserida numa rodinha dentada de hamster. É aquele ódio de desespero de "se eu fosse assim já tinha arranjado trabalho" que vem acompanhado por outra voz interna meio rouca e fininha que me diz ao ouvido "mas deixavas de ter uma vida, a tua. É isso que queres?". E eu aborrecendo-me com as duas, deixo-as a discutir e venho-me embora, cabisbaixa com a complexidade disto tudo. Será arranjar trabalho assim tão importante ao ponto de, por não o ter, estar cada dia que passa com mais urgência e com aquela sensação agoniante de que qualquer dia "aceito qualquer coisa" que me atropela todas as maravilhosas intenções e esforços que envidei na busca por mim, pelo que gostaria mesmo de fazer e por essa luta de dizer não às coisas que seriam mais fáceis mas não alinhadas com o meu eu e com a minha estrela de valores e o diabo a sete. Estou naquele ponto da escarpa em que se dou mais um passo caio no abismo e me transformo naqueles seres rezingões que gozam com todas as pessoas que dizem "gratidão" e "segue o teu coração" e "faz o que sentes" e tudo e tudo... 

E o mais hilariante? É que eu era/sou (?) uma dessas pessoas. Não queria nada perder esse meu lado de fascínio com uma certa ordem neste caos, a do olhar da beleza, mas da que se concretiza. À minha volta parece que a Pandora não soube fechar a puta da caixa. Tal como o casalinho que comeu a puta da maçã quando lhes tinham dito que "era melhor não". E eu sou a Pandora, sou Adão e Eva, sempre com esta mania de desobedecer mesmo que depois me sinta tremendamente mal por ser assim. É uma não aceitação de grau X na escala de Richter. É uma exaltação, é uma inquietação, inquietação, inquietação como cantava o outro.

E no meio do turbilhão, um furacão, uma lagoa em chamas abertas dentro de mim, do meu âmago, numa montanha russa com parafusos que ora se soltam ora se apertam, um fósforo a queimar que nunca mais vê o fim, e uma canseira à alentejana que só dá vontade de mandar tudo foder.

Fui de férias ao norte. Fiquei numa casa. Ou deveria dizer num labirinto de resiliência? Desde calor dos infernos, a barulhos intermináveis durante a noite, uma chaleira ao lume a fazer favas que não dava descanso aos ouvidos e luz de estádio de futebol a iluminar o colchão pequeno e colado ao chão do quarto que imobilizava o corpo como num caixão, a tensão e elefantes diários nas pequenas escolhas diárias que se tinham que fazer, foi de chegar ao dia de visitar o Siza nas suas marés de Matosinhos e perguntar-lhe onde é o ralo do Porto, que eu tinha que largar todas as águas que vinha acumulando dentro de mim.

Mas o mais irritante de tudo isto é que onde acumulei cansaços, acumulei esperanças, por cada mau houve um bom, e isso é o que me agonia neste vómito que fica preso na garganta e que se sente que está quase a sair mas nunca sai. Fosse um bebé e bolsava esta merda na hora. Mas não sou. Fica ali no vai não vai, no fala não se fala, no resolve-se não se resolve, no vamos investir, vamos ficar por aqui, é pior que o outro (que também cantava) "BAZAMOS OU FICAMOS?" E eu adicionaria o jargão-cantilena do norte, que eu devo ter sido de lá numa outra vida - CARALHO!

Tenho tantas decisões a tomar neste momento que me apetece dar uma de Nandinho (aka Fernando Pessoa) ir buscar o absinto e ver ficar a ver fadinhas verdes a mandar fodinhas nesta realidade.

Continuo chorona, rezingona, refilona, pouco crente e não quero ficar amarga. Mas puta que pariu que não tem sido nada fácil. Decisões, decisões, decisões, e pouca ação a fluir num sentido de mudar esta espiral desenhada com aquelas réguas infantis de fazer espirais. Fica bonito, mas se queremos ser nós a controlar, vai sair do eixo e fica uma linha fora do enquadramento, fora de si, fora de nós. Será que nós poderemos mesmo algum dia ser livres nas nossas escolhas?

Será que somos mesmo livres? E o que é isso do livre arbítrio quando tanta coisa dentro de nós condiciona as nossas escolhas e é quase preciso um mamute de força para nos atirarmos para fora da nossa zona de conforto de forma consistente, sem que entremos numa depressão profunda por fazermos a vida como nunca a fizemos antes e assim a mantermos?

Filosofias.

Comprei livros. Muitos livros.

Talvez a acusar cansaço dos livros do bem-estar, da moda do bem-estar onde eu quero(queria?) à força tanto entrar, de repente eu que não ligava nada à política quero entender-lhe o estado do mundo, perceber como é que chegámos a esta civilização capitalista porque espantosamente começo a querer pôr-lhe as culpas em cima e de repente entro noutro estereótipo maravilhoso de dizer que a culpa é do sistema (ahahahaha rídicula).

Viro-me para várias frentes em busca de fendas que me parecem oferecer possibilidades de saída, às vezes parece-me que já nem os meus pensamentos mágicos funcionam, e que estou presa nos limites de uma condição... Seja lá qual ela for. E perceber que se calhar questionar-me sobre ela talvez não me ajude assim tanto.

Será ridículo eu sentir-me normal quando faço compras num supermercado? Normal, normalizada, menos poeta, menos filósofa, menos rebelde, mais "enquadrada" num mundo em que me quero inserir (quase que à força), neste dilema de querer que me aceitem na diferença mas tentando ser igual? Dúvidas, dúvidas, dúvidas... Quase de certeza produto de estar ja quase há ano e meio com contactos reduzidos e digitais do ponto de vista social. Gostava de ser mosca de ressonância magnética para espreitar para dentro do meu cérebro e ver que luzes se acendem lá dentro agora. Deve estar um belo emaranhado, como os meus colares na mesa de cabeceira que ainda só não foram à tesoura porque agora sou uma pessoa muito mais "normalizada", ponderada, inteligente emocionalmente. É rídiculo chegar a um ponto em que só me apetece gozar com tudo aquilo que aprendi, que adoro aprender e que continuamente me salva a existência, essas teorias de sofrologia que até agora eu quero aprender. (Obrigada Marie. Do alto do seu avanço na história que foi a sua, continuo todos os dias a achá-la uma força da natureza e todos os dias me pergunto se já faleceu. Tenho saudades suas. De falar consigo. De olhar nos seus olhos, mesmo quando caiu diante de mim desamparada em plena aula minha e eu, socorrista mas pouco, a tentar serenar ambas as almas que olhavam para mim com alguma distância e urgência de serem acudidas e acolhidas).

Fragmento esta escrita porque é assim que me sinto. Fragmentada, com muita coisa para dizer. Sem saber a quem dizer o quê e sem saber muito bem como ligar os pontos. Como ordenar o sentir. Senti muito, tenho sentido muito, e quero continuar, quero mesmo. Mas há momentos em que constatar que a vida é tão mais complexa que o meu entendimento me fazem sentir pequena, incapaz, e sem poder (powerless), hopeless ... Mas é tão curioso porque tal como na minha relação com o trabalho por vir, como na minha relação-relação, também aqui eu tenho a justa (?) medida do equilíbrio (?) e por cada coisa boa tenho uma má, por cada pensamento de esperança tenho um de desespero, e por cada momento em que congelo com o medo da morte, vem de dentro de mim uma força de querer viver...

Ocorre-me a palavra imanência do fundo das entranhas e nem sei o que é que ela quer dizer. Vou ao priberam. Diz-me que é a Existência da causa na própria causa."imanência", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2021, https://dicionario.priberam.org/iman%C3%AAncia [consultado em 01-09-2021]. 

(copio e ele cola-me aqui o link só para terem a certeza que lá fui! Até os dicionários estão a ficar egóicos. Não vá alguém dizer o mesmo e não citar a fonte. Como se as fontes viessem todas de sítios individuais e não fossem oceanos que correm juntos! Enfim... Continuamos a querer preservar a individualidade mas achamos que para o fazer tem que haver dela uma separação das águas que a alimentam. Só somos indíviduos em grupo. Porque se o formos sozinhos que termo de comparação teremos para dizer que somos únicos? E pronto... já me desviei de novo.)

Voltando à imanêcia. Não percebi. Talvez não tenha que perceber agora e por isso vou refrear o meu instinto normal de ir chafurdar até entender o que não entendi. Neste esforço de aceitar o fluir da vida e do seu mistério. De não tentar compreender tudo e ficar bem com isso (até me dá uma volta ao estômago, mas vou tentar... estou a tentar, a sério que estou.)

Não aguentei. Confesso que fui pesquisar mais. Dizem-me que é referente ao concreto, ao material e fico surpresa como o meu corpo me vomita palavras assim, sem eu as compreender intelectualmente mas tão acertadas no momento. Talvez o meu trabalho até aqui, aquele com que tenho gozado desde o início deste texto, me esteja a fazer regressar ao lugar onde sempre quis estar, dentro de mim, compreendendo o mundo com as vísceras, o coração e o cérebro e pondo-os todos a conversar no jardim do diálogo religioso. À procura de se religarem entre eles. À procura de me religare.

Por agora chega. Já foi tanto. Que a mensagem te chegue, como sempre, pouco laminada, pouco delapidada e com a crueza normal e confusa do meu ser, sempre com a transparência de um vitral colorido para que pelo menos te alegre a alma, ainda que pareça que apenas a vou tingir com uma coloratura do universo confusa, cáustica e embrulhada.

Aqui me tens. E aqui me encontrarás. E sei que neste momento tudo isto é encriptado para ti. És tu que me abraças e acolhes na totalidade da minha confusão. E espantosamente, devolves-me a crença na Graça, neste mistério da Fé. Na magia. No saber que isto era suposto ser assim, jargões e palavras bonitas à parte. Uma certeza latente de que pelo menos não estou só.

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